A pequena e surreal Zermatt


Deixamos Fribourg pela manhã e partimos em direção a Zermatt. A viagem durou quase 3 horas, com parada em Berna e troca de trem em Visp, onde a beleza da paisagem começou a tomar grandes proporções. A cada curva, era como se Deus abrisse uma cortina e nos apresentasse o que de melhor ele criou. A Suíça é mesmo surreal. Com neve, então, nem se fala.

Só se chega até lá de táxi, helicóptero (Air Zermatt) ou trem. Quem quiser percorrer o trajeto de carro, deve deixá-lo estacionado em Tasch, 5 km antes, e depois pegar o trem ou táxi até Zermatt. Mas garanto que a viagem de trem é muito mais interessante e confortável.



Companhia irresistível durante a viagem
Zermatt é um vilarejo que respira romantismo e encanto. Está localizada no Valais, um dos 26 cantões que constituem a Suíça, a 1620 metros de altitude. Com uma silhueta bastante peculiar, o pico mais famoso do país, o Matterhorn, é o cartão-postal de Zermatt. Está estampado em praticamente todos os souvenirs e inspirou a logo de algumas marcas famosas, como do chocolate Toblerone.

Matterhorn, ao fundo.



Muitos portugueses vivem ali, e, portanto, é o segundo idioma mais falado depois do alemão. E foi exatamente com um taxista português com quem tivemos o primeiro contato, logo quando desembarcamos na estação de trem. O céu estava lindo, mas a apaixonante vila, composta de casas de madeira, estava toda coberta de neve. Parecia fazer parte daqueles filmes sobre o Papai Noel. 

Nas ruas somente carros elétricos podem circular. Mas o que mais vimos foram amantes de ski andando pra lá e pra cá com aquelas botas pesadas. Dava até pra esquiar. E por falar nisso, em Zermatt a neve é garantida todos os dias do ano devido à grande altitude. 

Para hospedagem escolhemos o hotel Beau Rivage, comandado por Max Julen, campeão de ski das Olimpíadas de Sarajevo de 1984. A localização é central e com vista para o Matterhorn. O hotel dispõe de uma área com banheira de hidromassagem e sauna, loja de aluguel de equipamentos de ski, onde alugamos os nossos, e um restaurante muito bom. Não há tanta variedade no café da manhã, mas não temos nada a reclamar. Todos os dias fomos muito bem atendidos por uma funcionária portuguesa. 


O quarto que escolhemos (standard) possuía espaço suficiente para dois, Tv, frigobar, banheiro espaçoso com banheira, telefone e varanda, onde havia uma montinho de neve. Não pensamos duas vezes e já colocamos as bebidas para gelar ali mesmo para comemorar.


Bebidas gelando ao natural, na varanda do quarto.


Nesse primeiro dia optamos por fazer o passeio até Gornergrat, um cume de 3.089 metros de altitude, cercado por 29 picos acima de 4000 metros, de onde podemos ter uma vista espetacular e avistar o Matterhorn de um ângulo incrível. Para chegar até lá fomos até a Gornergrat Bahn (estação), compramos o ticket e entramos no mais alto trem ao ar livre da Europa. Com o Swiss Pass (passe de trem que dá direito a viagens ilimitadas, descontos em museus e transporte público à vontade dentro da Suíça) tivemos um desconto de 50%, pagando 42 CFH (francos) por pessoa.



O trajeto dura 33 minutos com paradas em 4 estações de ski antes de chegar ao destino. São elas Findelbach, Riffelalp, Riffelberg e Rotenboden. O ticket que compramos dava direito a entrar uma única vez em cada estação. 


A vista é surpreendentemente maravilhosa e, aos poucos, à medida que o trenzinho subia em direção ao céu, Zermatt ia ficando pequena. O Matterhorn cada vez mais se aproximava. Da janela do trem acompanhávamos o sobe e desce de crianças e adolescentes europeus fascinados pelos esportes de inverno, os teleféricos e o deslizar na neve de dezenas de esquiadores.





Em Gornergrat encontramos o 3100 Kulmhotel Gornergrat, o mais alto hotel da Europa, onde há também dois restaurantes (Panorama-Self e "Vis à Vis"), lojas e um observatório astronômico. 

Entrada para Gornergrat

3100 Kulmhotel
Infelizmente os restaurantes já haviam encerrado para o almoço, mas o Panorama-Self ainda servia sanduíches. Há um terraço com mesas de frente para as montanhas. Dali podia ser visto também o Monte Rosa, sendo parte dele pertencente à Itália. 

Sentamos do lado interno do restaurante, mas havia janelões de vidro que proporcionavam uma linda vista. Enquanto saboreava o sanduíche, o Matterhorn estava ali, logo em frente.

Restaurante Panorama-Self 
Vista para o Mattehorn
Sanduíche servido por um garçom português
Já era fim de tarde. Era hora de descer porque o frio estava cada vez mais intenso. O tom azulado da paisagem tomou lugar e avisava que faltava pouco para a noite chegar. 



 
Da estação decidimos voltar a pé para o hotel e conhecer a vila. Entramos em várias lojas, compramos lembrancinhas, tiramos foto, caminhamos sem pressa, apesar do frio. Assim como toda a vila, a rua principal (Bahnhofstrasse) é o charme do charme do charme...A neve, as luzes, as casas de madeiras dão a sensação de época natalina, independente do mês. 

Bahnhofstrasse


Lindo restaurante que nos chamou atenção

Puro encanto!

Entrada de um dos melhores hotéis, o Mont Cervin Palace
Para jantar escolhemos o elogiado restaurante do nosso hotel, o Chez Max Julen, especializado em grelhados. Enquanto esperávamos uma mesa, sentamos no bar e pedimos um saboroso vinho para aquecer. O atendimento foi ótimo.

Os pratos pedidos foram steak em fatias, acompanhado de fritas e vegetais, e risoto de legumes e trufas. A carne estava bem macia, suculenta e muito saborosa. O delicioso risoto, com aquelas verdadeiras e generosas trufas em lascas (que só sentimos o cheiro e raramente são vistas nos pratos de restaurantes brasileiros), também superou as expectativas.

Restaurante Chez Max

Steak

Risoto de trufas com vegetais
O dia acordou bem nublado. A previsão era de neve. Antes da viagem, por email, reservamos aula particular de ski com a Alpine Swiss School. Enquanto esperávamos por nossa instrutora, alugamos os equipamentos na loja do hotel, a Julen Sport. 

Pouco depois, lá pelas 09:30 hs, a instrutora Hannah chegou. Fomos até a estação Sunnegga- Rothorn para pegarmos o funicular subterrâneo (4 minutos de duração) até Sunnegga Paradise, uma das estações de ski de Zermatt, a 2288 metros de altitude. De lá você pode pegar o teleférico e ir até Blauherd (2571 metros) e depois até Rothorn (3103 metros).


Corredor da estação Sunnegga-Rothorn

Funicular
Em Sunnegga há acesso direto para as pistas de ski, restaurante, um parque para crianças e adultos chamado Wolli e trilhas para caminhadas de inverno.

Ponto do Teleférico em Sunnegga

Lá embaixo pessoas esquiando na área do parque Wolli
Foi no Wolli que tivemos 2 horas de aula. Hannah nos mostrou macetes para esquiar e ficou por nossa conta. Era paciente e ao mesmo tempo firme, estimulando muito nosso desenvolvimento.


Nós, do jeito que os suíços gostam! 

Eu e Hannah


  
Depois de 2 horas intensas de ski estávamos exaustos. Começou a nevar, nos despedimos da instrutora e fomos almoçar no disputado restaurante da estação. O prato escolhido para repor nossas energias foi a típica batata rösti, com um molho maravilhoso de cebola, e salsicha grelhada. Muito bom!


Ainda faltava uma última atração que estava nos nossos planos. Mas a neve foi ficando mais forte e havia muita neblina, o que impossibilitou de conhecermos o Matterhorn Glacier Paradise, acessível somente através de teleféricos, que antes de chegar passam em outras estações. A plataforma de observação está a uma altitude de 3883 metros e possui restaurante, loja, cinema lounge,  pistas de ski e um palácio de gelo (Palácio Glacier - o maior da Europa) onde há esculturas e um pequeno tobogã também de gelo. Infelizmente não foi possível por questões até mesmo de segurança. E mesmo se desse não conseguiríamos enxergar nada lá de cima. Imagina você de teleférico, a mais de 3000 metros de altura, sem enxergar um palmo à frente, passando um frio congelante. Ui!

Mais tarde fomos conhecer o Museu Matterhorn, que conta a história da região, reproduzindo as casas e o antigo modo de vida, além de mostrar a trajetória de alpinistas que escalaram o Matterhorn, desde a primeira subida, realizada por  Edward Whymper, e a corda arrebentada até as vestimentas e equipamentos utilizados. A escalada aconteceu em 1865. Eram 7 alpinistas, mas apenas 3 sobreviveram, inclusive Edward.

Os mais recentes alpinistas a escalarem a famosa montanha foram Patrick Aufdenblatten e Michael Lerjen, ambos de Zermatt, no ano de 2011. O tempo de percurso foi de 7 horas e 14 minutos.


Reprodução da antiga Zermatt

Interessante reprodução das diferentes rotas feitas pelos alpinistas para escalar o Matterhorn. Cada vez que o botão era apertado, um caminho percorrido era mostrado.

Modo de vida dos habitantes no século XIX
Toda a vila coberta de neve


Para aquecer, de lá fomos até o Gee's Bar tomar um chocolate quente. O local tem bom atendimento, é descontraído e o cardápio é variado. 

Gee's Bar
Delicioso chocolate!


No meio do caminho para o restaurante que havíamos reservado, paramos no Papperla Pub, um lugar muito animado e de público na faixa dos 30. O que nos fez entrar foi a banda que se apresentava. Vestidos de super heróis, eles faziam várias performances a cada música. 


Logo em frente, no Romantik Hotel, o lindo restaurante Shäferstube nos esperava. O estabelecimento ocupa o quinto melhor restaurante de Zermatt no ranking do Trip Advisor.

Entrada para o restaurante
Sentamos em uma mesa de canto muito aconchegante. Fomos muito bem recepcionados e o atendimento não foi diferente.

Para aquela noite escolhemos o raclette, prato típico à base de queijo do mesmo nome, derretido e servido com mini batatinhas cozidas e com casca, picles e carne seca da região do Valais. Esta última não é a carne seca que conhecemos do nordeste brasileiro, mas sim um aperitivo inventado pelos pastores suíços. Sua produção é composta de trinta etapas, realizadas no período de 1 semana. A carne é servida em fatias finas que se assemelham a um presunto, mas o sabor e a cor são inigualáveis. 

Típica carne seca do Valais
Estava tão empolgada com o raclette que esqueci de registrá-lo. O queijo derretido era servido em um prato à parte e, como acompanhamento, as batatinhas e os picles completavam o sabor. O queijo era à vontade, à medida que acabava era servido mais. Para sobremesa pedimos algo mais leve. Uma linda combinação de frutas com sorvete.


No dia seguinte, durante o café da manhã, ficamos sabendo que a estação de trem estava fechada por conta da nevasca. Mas era dia de ir embora e, então, fomos orientados a fazer o check- out e ir para a estação porque a qualquer momento poderia ser aberta. E assim fizemos. E não é que deu certo? O primeiro trem saiu lá pelas 11:00 hs, mas pouco depois ficamos parados para que os trilhos fossem desobstruídos de neve. A viagem, com duração de 3 horas e meia para Zurich, foi tranquila. A paisagem já não era a mesma da ida, com aquele céu azul, mas era igualmente linda.



Antes de optarmos pela estação de ski que conheceríamos durante a viagem, ficamos entre St. Moritz, Interlaken e Zermatt, cada uma com sua peculiaridade. Posso dizer que não poderíamos ter feito melhor escolha. Zermatt ficou na memória e no coração. Um vilarejo lindamente encantador, surreal, mágico. Um dos lugares mais bonitos que já fui. Sorte de quem também teve a oportunidade de conhecer. Agora bateu uma saudade...

Até a próxima

B.Jus

3 comentários:

  1. Olá, Boia! Mais uma vez, super agradecida! Abs

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  2. Não poderiam ter escolhido Post melhor... Parabéns! Adorei.

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  3. Parabéns ! Informações esclarecedoras com excelentes registros digitais !!
    Visitei ZERMATT em 2012 e irei retornar em janeiro 2015 , usarei suas indicações !!!
    abços.

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